15 de novembro de 2009

Zacarias, um elegante trapalhão


Mauro Faccio Gonçalves fazia a arte de despertar sorrisos parecer fácil. Talvez esta tenha sido a sina deste elegante trapalhão. Seu ofício era cultivar a alegria. Alguns o viam como um tímido que se transformava quando vestia uma de suas máscaras teatrais. Outros enxergavam no Mauro alguém espontâneo, cheio de vida para compartilhar a qualquer momento, com qualquer um. Mas qual Mauro é o verdadeiro? O tímido ou o extrovertido? Ou os dois?


Existe uma ambiguidade fundamental em tudo o que diz respeito ao “Maurinho” ou “Bidu”, como não raro era chamado. O homem que estava ali dependia de como se olhava para ele. O Zacarias, sua máscara que se tornou imortal, retrata a simplicidade do caipira do interior de Minas Gerais. No Zacarias podem-se encontrar doses medidas da doçura do Mauro. Ele é simples. É puro. É a personificação adulta daquela criança interior que todos carregam dentro de si mesmos.


Faz lembrar o cupido dos mitos gregos. Uma criança que normalmente nunca cresce, exceto em momentos específicos, na companhia de certas presenças, mas que depois volta novamente a ser criança. Os momentos de maturidade do cupido são fugazes. Ele é sempre criança. Com o Mauro não parecia ser muito diferente. Mesmo despido da caracterização de Zacarias, não tinha como olhá-lo sem enxergar uma criança prestes a fazer uma de suas travessuras. A elegância do tímido e carinhoso Mauro dava lugar as traquinagens do infantil e desastrado Zacarias. O caçula dos Trapalhões era o mais cômico dentre os quatro. Era como uma criança.


Mas o Zacarias todos conhecem. Suas brincadeiras, sua peruca, seu sorriso. O que a maioria das pessoas ignora é que por detrás deste cupido da alegria existia um homem, que os amigos sempre se referem com saudade e contentamento. O Mauro era uma pessoa muito doce, tanto quanto apenas quem o conheceu de perto seria capaz de tentar definir. Sonhava alto. Tinha seus objetivos. Lutava contra todos os obstáculos que lhe apareciam pelo caminho. Enfrentou o preconceito, o desamparo, a ausência. Tudo o que estava perto, ficava distante. Em pouco tempo descobriu que as estruturas que tinha não lhe permitiriam seguir o caminho que almejava. E lá foi o Mauro em busca de novas estruturas.


Seu coração era grande. Porém, provavelmente era um coração chagado, por causa de tudo o que teve de enfrentar e suportar para seguir o caminho que escolhera. Deixou muitas coisas para trás, no entanto, tinha ciência que haveria outras tantas coisas pela sua frente. O Mauro, caracterizado ou não de Zacarias fazia de tudo uma grande brincadeira. O melhor de tudo é brincar, celebrar na brincadeira, expulsando a negatividade e melhorando as pessoas. Sorrindo tudo parece melhor, esta foi talvez a grande lição do embaixador da alegria. Mauro Faccio Gonçalves... Elegante como era, trapalhão como escolhera ser.

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